quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Covardia contra a arbitragem

Desde que me conheço por gente o futebol brasileiro é precário, em todos os seus segmentos. Seja estrutural, administrativo, tático, técnico ou disciplinar. O futebol brasileiro não caminha, rasteja.
E o mais curioso, é que o que mais evoluiu neste ramo, foi a arbitragem. Prova disso, é que hoje temos escolas de arbitragem, ainda em evolução, porém competentes. Há técnicos e observadores de arbitragem em cada jogo, com o intuito de evoluir individual e coletivamente cada árbitro, e ainda organizam pré-temporadas para estudarem questões técnicas, disciplinares e ocasiões de jogo.
Sem contar a parte teórica nos cursos ministrados pela FERJ, que contém: Regras de jogo, árbitro assistente, súmulas, psicologia voltada para arbitragem, legislação desportiva, nutrição voltada para árbitros, fisioterapia...entre outras disciplinas.
O teste físico é um particularidade, não é à toa que reprova muitos árbitros ano após ano, afinal são 24 tiros de 150m, em 30 segundos cada, com intervalo de 40 segundos entre cada tiro. Para atingirmos esse potencial, que as entidades estipulam, todos temos que treinar rigorosamente, estudar, trabalhar e ainda apitar. Afinal, a arbitragem não tem salário fixo e nem assina carteira, são vidas e profissões paralelas.
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Mas vamos ao que interessa.
Nesta semana fiquei muito chateado com as declarações por parte da imprensa (alguns comentarístas) e dos diretores dos clubes supostamente prejudicados.
A principal discussão desta semana, passou a ser o pênalti no Ronaldo. (isso mostra o quão precário ainda é o futebol neste país)
Se o árbitro erra por não saber aplicar a regra do jogo (técnica ou disciplinar), tudo bem, mas o árbitro ser julgado por aplicar a regra 12, corretamente, isso é um absurdo. Mas o pior é assistir e ouvir pessoas, que nunca entraram em um campo de futebol (como jogador ou árbitro), falarem coisas sem fundamento, porque acham que as decisões deveriam ser dessa ou daquela maneira. Há um jargão no futebol que diz que todo torcedor é técnico de futebol. Agora, além de técnico, é árbitro também. (isso tem que acabar!)
Como explicar toda essa questão que envolve os árbitros? – Isso é fácil.
Vamos começar indo para a Europa, onde se tem um padrão de arbitragem, justamente por ter um padrão tático e físico (ou seja, um maneira de se jogar futebol). Lá o futebol é rigorosamente tático, fácil de observar, acompanhar e interpretar. Os jogadores pouco contestam, pois há um nível de disciplina muito elevado em todos os sentidos, dentro e fora de campo (jogadores e comissão técnica) e também fisicamente os jogadores são muito semelhantes, pois é uma característica do Continente.
Já no Brasil, os jogadores têm estruturas físicas muito diversificadas, pouca técnica e muita malandragem (isso já dificulta muito o trabalho). Os clubes são quase todos amadores em suas gestões, e os técnicos são pouco preparados para comandar uma equipe, e principalmente, passar a ela disciplina (que é o básico).
Como disse acima, os árbitros são muito bem preparados, não há dúvida. Mas, neste país, há 27 estados, onde em cada estado se tem uma maneira de praticar o futebol (técnica, tática e disciplinarmente falando), e a interpretação passa a ser crucial. A regra é a mesma, mas a maneira de se apitar “é diferente”.
Observem o nível do futebol, nos estaduais, que vocês chegarão a esta conclusão. Os estaduais têm pouca, ou, quase nenhuma visibilidade em proporções nacionais, e o nível técnico das equipes é muito fraco, portanto chutão e correria, é algo comum. As equipes técnicas, que não passam disciplina e respeito algum aos seus jogadores e torcida, reclamam de tudo, querem todas as faltas, e os jogadores dentro de campo absorvem aquele clima e ficam cada vez mais nervosos. Ou seja, zero disciplina e zero técnica (zero profissionalismo).
Por isso, tradicionalmente os árbitros do sul do país têm um maior destaque no hall de árbitros que chegam a FIFA, em relação aos árbitros de outras regiões. Por conta do jogo ser mais pegado (que é tradição na região), o árbitro deixa o jogo correr. Mas aí é que mora o problema. Falta de padrão na arbitragem. Teremos bons árbitros para Copa, mas nunca teremos bons árbitros para o nosso, diversificado, Campeonato Brasileiro. Onde em cada estado se joga o futebol de uma maneira, e todos, interpretam de maneira diferente o mesmo lance.

Abraço.

Um comentário:

  1. Excelente análise, Raphael. Concordo contigo com relação à dificuldade de se manter um padrão de arbitragem no Brasil em função de aspectos como as dimensões continentais do país (que dificultam a uniformização da regra), a cultura de jogo aqui cultivada (e aí entra a "malandragem" citada por você), além da não-profissionalização dos árbitros (o fator mais importante, sem dúvidas).

    Também compartilho da mesma opinião que você em relação ao excesso de responsabilidade jogado nos árbitros. Os erros de jogadores, comissão técnica e diretoria sempre são insignificantes perto das falhas dos apitadores. Outro exemplo clássico de malandragem...

    Grande abraço, e parabéns pelo blog!

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